Parece o maior clichê dizer que álcool e direção não combinam, que carro e velocidade são uniões perigosas e que é preciso prudência no trânsito. Isso porque temos a falsa impressão de que isso é senso comum e todos têm consciência desses cuidados (apesar de poucos executá-los). Mas a verdade é que só nos damos conta da importância de dirigir com cautela e responsabilidade nas ruas depois que somos atingidos por uma tragédia. Seja com a gente mesmo, com um familiar, amigo ou com alguém que gostamos muito. Foi o que aconteceu com a atriz Cissa Guimarães, que perdeu o filho, Rafael Mascarenhas, em um atropelamento e também com cantor Leonardo.
Depois que o filho dele quase morreu em um grave acidente de carro, o artista participou de uma campanha de conscientização no trânsito do movimento PARADA – Pacto Nacional pela Redução de Acidentes. O músico descobriu de forma dramática que “a dor de um acidente pode durar para sempre” (slogan da campanha). O filho dele ficou meses no hospital e felizmente conseguiu sobreviver a tragédia. Tragédia esta que se repete cerca de 430 mil vezes todos os anos no Brasil em acidentes de trânsito. O saldo de tanta imprudência são 38 mil mortos no país e 1,3 milhão de vítimas fatais em todo o mundo em apenas um ano.
Os números são alarmantes, mas só assustam de verdade quando essa realidade atinge diretamente um de nós, como aconteceu com o Leonardo. Somente depois de passar um grande susto como este é que o cantor decidiu abraçar a causa e tentar de alguma forma chamar a atenção das pessoas para esse grande problema. E isso não é uma crítica a atitude do Leonardo, que nem cobrou pela participação na campanha. É assim mesmo que nós agimos. Ficamos na inércia até que o problema nos atinga. E o pior, as vezes, não fazemos nada mesmo vivenciando a problemática de perto.
Frente a gravidade da situação de tantas mortes no trânsito, no ano passado a ONU deu início a “Década de Ação para a Segurança no Trânsito” para que a sociedade se mobilize para estabilizar e reduzir o número e a gravidade dos acidentes em todo o mundo. Isso porque o trânsito é feito, essencialmente, de pessoas. Sem elas não há trânsito.
E a maioria dos acidentes de trânsito, na verdade, não é acidente. Isso porque a palavra acidente pressupõe um acontecimento imprevisto caracterizado pela impossibilidade de controle dos fatores causadores. O que vemos pelas ruas é uma sequência de imprudência somada a falta de respeito e educação por parte de todos: motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Levando em consideração que a responsabilidade dos condutores de veículos automotores é sempre maior que os demais porque o veículo lhe coloca em uma condição de superioridade (em relação a potência) frente aos demais.
Seja consciente no trânsito antes que uma desgraça aconteça. Acidentes podem ser evitados. A mudança começa com você.